Angustiado e pensativo, às vezes eu tenho a impressão de que somos todos uns desesperados mesmo. De que se ainda resta algo que compartilhamos todos é essa melodia de fundo que nas entrelinhas de todas as marchas, todas as lutas, todos os ímpetos de agredir/defender, o que faz mesmo é esbravejar por ajuda e consolo.
Criativos, entoamos essa melodia com um repertório extravagante, vastíssimo e quase sempre a partir de notas que excedem em muito a linguagem (essa convenção limitadíssima do signo/significante bla bla bla).
E um dos embrutecimentos que nos acomete nestes tempos de fascismo galopante é a perda da capacidade de nos mantermos minimamente atentos às mais variadas formas com as quais as pessoas que nos entornam - e nós todos, na verdade - esbravejam por cuidado, ajuda e consolo.
Cuidado com a nossa história e nossos vocabulários de motivos, que são sempre nebulosos e parcialmente desconhecidos dos nossos acusadores.
Ajuda e consolo por essa existência sem-saída que é, no duro, osso bem ruim de roer; pra uns mais, pra outros menos, mas de todo mundo exige uma coragem sempre em falta.
E o embotamento dessa capacidade humanizadora de reconhecer a própria dor na dor do outro é coisa bem triste, no fim das contas. E pra todo mundo. É como se a própria humanidade, essa linha tênue que faz de nós algo mais do que "bestas sadias que procriam" se esvaísse do mundo, assim, porosa, lisa, como quem fugisse...
Nem palavra nem silêncio: uma criança que chora é uma criança que chora; um homem que morre é um homem que morre.
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