segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sentimentos



"Sentimentos estão por toda parte. Quando não se ocupam em perambular pelo coração de alguém, estão a voar, flutuar por aí, lépidos, descompassados, às vezes intransigentes em suas escolhas e rumos. É algo curioso, curiosíssimo: a gente está caminhando pela rua e, do nada, pá!: um sentimento alcança a gente. Pode ser uma menininha bonita, uma criança de rua ou um distinto senhor que nos lembra o pai, ou o avô. A gente está andando, sem nada no peito, numa indiferença atroz para com nós mesmo, e vem um sentimento e dá um basta em todo o excesso, em toda a insensatez, e abarca o mundo todo - e o preenche. E a gente sente.

Os sentimentos também assumem várias formas: podem ser, num domingo, no cantar da gente que passa, uma camisa de um time de futebol. Uma cadeira de balanço. Um peão, uma florzinha, o mar. A geografia, o tato do sentimento são meio irregulares: de vez em quando bate na gente, com força e impaciência, indignados com a nossa cegueira. Outras vezes, só nos cutuca, a gente olha para ele meio de soslaio, e ele pisca pra nós. Seja com truculência, seja com malícia: o sentimento nos avisa. É bom poder sentir.

Sentimentos também se transportam. Vão a terras inacessíveis, conhecem outros sentimentos semelhantes seus, iguais ou parecidos, com eles se juntam, deles se separam e voltam ao lugar de origem, ou não. Depende do destino, da estrada, de quem vai e quem volta. Sentimentos fazem check-in, pagam taxa de embarque e andam de avião. Mas deixam uma coisinha por onde estiveram. Um pedacinho de si mesmos.

Os sentimentos se comportam como eternos turistas. Por mais que andem por todos os lados, não são tão volúveis: é como se tirassem fotos das paisagens que conheçeram, para que não se esqueçam de onde estiveram. Aí, de vez em quando olham o seu próprio álbum. E voltam."

Daniel Ricci Araujo
Fevereiro de 2006

Meu irmao é foda. Eu sou fodinha.

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