Hoje Arequipa amanheceu nublada, assim, com ar tristonha. E eu, da mesma maneira: cinzento. Eis que é chegado, enfim, o dia da minha despedida dessa cidade que me acolheu nesses dois últimos meses. Sentado na poltrona da minha sala, infelizmente, no ultimo dia da minha estadia no Alto Peru, nao consigo admirar o Misti – talvez o maior simbolo da cidade. E eu como humanista que sou, desmedidamente apaixonado pela vida e por toda essa gente que passa e despassa por ela, nao me sinto muito confortavel hoje. Nao vejo o cume do Mistí, nao estou seguro de que um dia ainda voltarei pra esta cidade tao doce, quicá tenho idéia do que vai ser dessa gente daqui alguns anos. Sao muitos abracos, sorrisos, votos de regressos, que a gente adora receber, mas que fica confinado em um cantinho escuro do coracao, e que na verdade mais dói do que conforta.
As relacoes humanas, sao mesmo, complicadissimas. Quando se retorna, o que se quer é se prolongar um pouco mais. Quando se chega, a saudade dos entes que ficaram parece maior do que deveria, e voce ainda se sente sozinho no ninho. Quando eu saí de Porto Alegre deixei a minha erva madrugada e o prazer de saborear o meu chimarrao quente e amargo na sacada da minha casa. Deixei o meu pai, com sorriso terno e paciente voltando de sua caminhada matinal. Deixei minha mae sozinha sorrindo no corredor. Deixei o dani, ah o dan. Incrível como a sua ausencia insiste em me castigar mais. Esses todos que sao as minhas causas. Os meus causos. Que no transcorrer desses 20 anos foram o meu comboio, o meu aporte, a minha causa mais grandiosa e sincera. E que agora, e cada vez mais claro tenho isso, comecam a se distanciar em um caminho sem volta. Os natais juntos serao, em um futuro nao muito longe, cada vez mais raros. Mais comuns serao os votos de feliz ano novo por longas espirais metalicas, ou,- perdendo um pouco o romantismo - em sinais digitais invisiveis e onipresentes. Quase indiferentes. A partida de Porto Alegre, como toda partida, nao foi matéria fácil.
Depois de dois meses estou deixando alguém de novo. Deixo o Chris e a Deydra, e a sua infindável alegria em compartilhar comigo essa experiencia. Deixo-os de coracao partido, sabe se lá quando essas vidas preciosas irao cruzar com a minha de novo. Deixo a chapita, munida de todo o sentimento e graca das pessoas que nao fazem forca nenhuma para serem amigaveis. Apenas o sao: naturalmente. Incrivelmente. Deixo a gabi, e toda sua docura e compreensao, pra nao falar nos dois globos azuis – mansos - que encontram endereco certo em seu rostinho de menina. Deixo tambem a senhora da venda aqui de baixo, o jornaleiro da Av. Estados Unidos, a moca da piscina, e toda essa gente. Inconfundivelmente latinos, como nós, cheio de mansidao e graciosas imperfeicoes para com tudo o que existe. A partida de Arequipa, tal como a de Porto Alegre dois meses atrás, nao está sendo algo muito agradável.
Por isso meu encanto com a fotografia. Elas tem a preciosa faculdade de nos rememorar momentos belissimos. Quase sinto o cheiro do rio de MachuPicchu quando vejo as fotos daquele fim de semana incrível. Pareco ouvir a voz do Joosh e seu acento de Amsterdam ao reencontrar com ele no morro de Arica, em fotografia. Me envergonho ao reparar na Deydra tanta leveza e contentamento em nos receber, de bracos abertos, em sua casa aqui do outro lado da América.
De repente, dá vontade de ficar. No instante próximo, o viajante que anda por aí, meio perdido de bobeira com toda essa atmosfera estranha que quase já se acostumou, olha as fotos de casa.E com calma pede a Deus para que a viagem de volta nao demore muito.
Obrigado, Arequipa.
21.02.2010
Eu faltá-lo-ei amigo ... (translate by babelfish so sorry 4 the bad portuguese)
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