terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Aula de Sociologia no Peru

Foi demais. Primeiro os alunos do terceiro e do quarto ano da faculdade de ciências sociais riram inverteradamente do meu chimarrao. Acharam muita graca no fato de eu chegar com pressa, atrasadinho, e com uma termica e uma cuia nas maos. Contei para eles uma anedota de um menininho que perguntou se meu mate era mate de marijuana e depois dessa, ganhei eles. Acompanharam meu raciocínio que frenéticamente discorreu sobre mesticagem no Brasil, racismo, cotas nas universidades, bolsa família, musica popular brasileira, colonizacao e literatura, papel do sociólogo e antropólogo na sociedade e muitos outros issues.

A verdade é que olhei para muitos rostos interesados e interessantes nesses últimos dias. Tive uma conversa franca com o cónsul do Brasil em Arequipa, um senhor muito inteligente e educado – em plena forma, há de se dizer – que é casado com uma brasileira e foi nomeado cónsul do Brasil em Arequipa pelo Itamaraty. O que, na verdade, à princípio me causou um certo estranhamento, um cónsul do brasil, peruano, mas com nossa conversa me mostrou que provavelmente entende mais do Brasil do que eu, cidadao de papel passado e há mais de 20 anos residente do sitio.

Agora, o que passa é que esses últimos tres dias entre casas de familias peruanas, de intimidade peruana, de estudantes, diplomatas, e todos as demais pessoas que tenho me relacionado estao me sugerindo um sentimento muito claro. Quanto mais pessoas diferentes voce conhece, quanto mais estuda, quanto mais se sofistica, mais se cala. Acho que o estudo e o permitir conhecer, a si e aos demais, é um eterno processo de lapidacao das opinioes. Gradativamente vamos amansando o monstro que nos habita. Ficamos mais calados, mais reflexivos. Se pensa mais antes de dar qualquer opiniao sobre qualquer coisa, por mais sofisticadíssima que pareca. Comecamos a sentar no escuro para ouvir a voz do silencio, e refletir sobre tudo, mas o que é melhor, manter tudo isso em nosso íntimo. Há coisas que nao podem ser públicas, que tornando-as públicas diminuímo-nas. E isso é um atentado. Me parece uma bela maneira de manter a lucidez: a introspeccao. O falar Baixo. O comentar, somente quando requisitado. A mansidao na voz. A superacao das vaidades.

Meu pai costuma dizer que uma boa maneira de mensurar a sofisticacao dos individuos é quando estes migram da cerveja e da costela de gado, para o vinho e a ovelha. E eu concordo.

E cada vez mais me sinto perto do vinho e da ovelha.
Oxalá.

Um comentário:

  1. caríssimo, tem um velho ditado maçon que diz:
    "saber, ousar e calar."

    Creio que serve como seda em cama de rameira ....

    abraços
    fernando

    ResponderExcluir