Atrás do ruído das panelas, o delírio de um rosto: Um texto para “Igor, o nacionalista”.
O ódio anti-PT longe de ser privilégio de bestializados perdidos na sua própria confusão de interpretação histórica e/ou incapacidade cognitiva é, sim, muitíssimo inteligente e bem informado.
Tem cara, cor, credo e formação. Eventualmente, espinhas no rosto e condecorações maçônicas na lapela. As contradições estão todas no homem, é o que dizem.
Conhece história e se identifica com ela: na parede, D’Annuzio, Bismarck e Castelo Branco. Na prateleira, quem espanta o burro é um senhor de nome Olavo. Ô-lá-vô-Eu: não ser um idiota.
No alto de seus 22 anos, é educado e polido. Exceto quando esbraveja contra a mulher. Ou, pra ser mais preciso, contra as mulheres, (i.e. os negros, os pobres, os gays). E aí, de contido-convicto torna-se um cão raivoso. A moral puritana se afunda no túmulo sem fundo de um pudor impossível. O gozo torna-se a descarga da raiva e quanto mais borbotões para ela se reafirmar, melhor. O cálculo do gozo tende ao infinito.
Sua origem e trajeto social poderiam ser a variante moderna da de um estudante monarquista do Largo São Francisco em algum lugar do século XIX: em casa, toca Beethoven e reza (muito). Sabe bem, esperto que é, da importância que tem e terá a relação dominante com a cultura dominante (e todos esses demais expedientes mundanos que até podem parecer rebiques de dama elegante mas são, na verdade, a passagem obrigatória para o “elevar da alma”).
Na rua, navega entre os círculos, assina com as três bolinhas ridículas. É daqueles que reconhece e é reconhecido em toda parte: “boa cara, bom barrete, boas palavras”. Índole validadíssima.
Se crê portador de dois poderes: i) o espiritual e o ii) temporal.
i) no acolhimento bem-intencionado e misericordioso de suas reuniões em petit comité lê e estuda poetas e filósofos de todas as matizes. Assim, veste a toga do magistrado (uno e legítimo) que assina a peça jurídico-moral do ideal-social ao qual devemos nos curvar. É dele a pluma que define os contornos da boa-vida a qual todos devemos desejar. O que o petit comité não imaginava é que misericórdia demais também corrompe, mas deixemos isso pra lá.
ii) Insatisfeito em saber o endereço do paraíso da “boa vida” também sabe por onde devemos ir, e claro, por um consenso lógico, reivindica para si e para os seus (nem que seja pela força - na verdade, sobretudo por ela) a competência intransferível para nos levar até lá. Custe o que custar, pela lei, primeiro, mas com a espada em punho. Nada de novo no front, ôxi, a república não é invenção de militares mesmo?
O Brasil continua não sendo matéria para amadores.
No mais, amador que sou, escrevo pra me consolar, como todo mundo por aqui, mas a coisa anda é difícil...
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